quinta-feira, junho 5
questão de tempo
Ela o fazia acreditar que ninguém poderia ser mais perfeito, jurava nunca ter sentido nada parecido [seu corpo ao menos denunciava que ninguém jamais havia lhe chupado daquela maneira!]. Não conseguia acreditar em tudo aquilo que estava acontecendo, e por conta disso, trazia consigo a insegurança característica dos que têm muito a perder [ligava pro celular dele de 2 em 2 horas, diuturnamente, e não entendia sua opção por jogar bola, beber cerveja e comer churrasco toda quarta-feira ao invés de desfrutar de sua companhia!]. Ela acreditava, piamente, estar construindo um relacionamento sólido e duradouro [ignorava por completo a existência do sociólogo polonês Zygmunt Bauman e sua tese sobre a liquidez das relações contemporâneas!], e oferecia-lhe seu amor de forma sincera e incondicional, desejando apenas que ele o correspondesse [através do cumprimento régio de algumas regras básicas previamente estabelecidas por ela... falar a todo o momento que ela é linda e que ele a ama, acompanhá-la em sua maratona semanal ao shopping sem tirar o sorriso do rosto, nunca esquecer de reparar (e elogiar) seus cortes rotineiros de ½ centímetro de cabelo, entre outras exigências igualmente estapafúrdias!]. A insegurança e a juventude ainda impediam-lhe de reconhecer as pequenas sutilezas masculinas utilizadas para expressar seus sentimentos mais ternos [surra de pau mole, duas sem tirar de dentro, cabeçada no céu da boca!], assim como compreender as artimanhas necessárias para se construir uma consistente relação a dois [TV a cabo, surdez congênita, hora extra, rivotril, memória seletiva, etc, etc, etc!]. Nada que o tempo não a ensinasse!
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