sexta-feira, novembro 28

quem?

Quem precisa de prestações de carro? Quem precisa passar um final de semana relâmpago em Buenos Aires por 12 parcelas de 99 reais? Quem precisa de uma cadeira Charles Eames? Quem precisa freqüentar bons restaurantes e beber bons vinhos?

Só queria minha vida de volta: café com leite no copo de requeijão, sessões esporádicas de masturbação debaixo do edredon, conversas rotineiras e despretensiosas com meus amigos, compartilhando de vossas vidas sem sentido e procurando, sem sucesso, algum sentido pra minha.

O trabalho definitivamente escraviza o homem. Eu era feliz e não sabia, não ganhava dinheiro algum, mas também não gastava! Hoje não passo de um escravo do dinheiro, um escravo do relógio, obrigado a acordar cedo, cagar pela manhã sem a mínima vontade de cagar, tomar banho com vontade de chorar e, em seguida, dividir um ônibus que, pela fisionomia das pessoas, mais parece uma ante-sala do inferno.

Sinto falta da época em que tinha tempo para escrever besteiras, sair com meus amigos sem nenhum dinheiro no bolso e voltar bêbado pra casa, acordar sem perspectiva de algo a que me dedicar pelo resto do dia, pensar sobre isso durante longos 3 segundos e, serenamente, sorrir!

segunda-feira, outubro 27

o capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio

por Charles Bukowski

O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio.

Por que há tão poucas pessoas interessantes? Milhões, por que não há algumas? Devemos continuar a viver com esta espécie insípida e tediosa? Parece que seu único ato é a Violência. São bons nisso. Realmente florescem. Flores de merda, emporcalhando nossas chances. O problema é que tenho que continuar a me relacionar com eles. Isto é, se eu quiser que as luzes continuem acesas, se eu quiser dar a descarga na privada, comprar um pneu novo, arrancar um dente ou abrir a minha barriga, tenho que continuar a me relacionar. Preciso dos desgraçados para as menores necessidades, mesmo que eles mesmos me causem horror. E horror é uma gentileza.

Mas eles pisoteiam a minha consciência com seu fracasso em áreas vitais. Por exemplo, todos os dias, volto do hipódromo apertando o rádio em diferentes estações, procurando música, música decente. Tudo é ruim, insípido, sem vida, sem melodia, indiferente. Mesmo assim, algumas dessas composições são vendidas aos milhões e seus criadores se consideram verdadeiros Artistas. É horrível, uma idiotice terrível entrando em jovens cabeças. Eles gostam disso. Cristo, dê merda a eles, e eles comem. Não conseguem discernir? Não conseguem ouvir? Não sentem a diluição, o mofo?

Não posso acreditar que não haja nada. Continuo tentando novas rádios. Meu carro tem menos de um ano, mas a tinta preta do botão que aperto já está totalmente gasta. Agora o botão está branco, marfim, olhando pra mim.

Bem, é, existe a música clássica. Tenho que me acostumar com isso. Mas sei que ela vai sempre estar lá pra mim. Escuto isso de três a quatro horas por noite. Mas ainda continuo procurando outro tipo de música. Só que não existe. Deveria existir. Isso me perturba. Escamotearam toda uma outra área. Pense em todas as pessoas vivas que nunca ouviram música decente. Não se admira que seus rostos estejam caindo, não se admira que matem sem pensar, não se admira que esteja faltando coração.

Bem, o que é que eu posso fazer? Nada.

Os filmes são tão ruins quanto a música. Você ouve ou lê a crítica. Um grande filme, dizem. E daí saio para ver o tal filme. E sento lá me sentindo um grande idiota, me sentindo roubado, enganado. Posso adivinhar a próxima cena antes de acontecer. E os motivos óbvios dos personagens, o que os move, o que desejam, o que é importante para eles é tão infantil e patético, tão enfadonho e grosseiro. As partes românticas são irritantes, velhas, bobagens preciosistas.

Acho que a maioria das pessoas vê filmes demais. E, com certeza, os críticos. Quando dizem que um filme é ótimo, querem dizer que é ótimo em relação aos outros filmes que viram. Perderam a visão geral. São martelados com cada vez mais filmes novos. Simplesmente não sabem, estão perdidos no meio daquilo. Esqueceram o que é realmente ruim, que é a maior parte do que assistem.

E não vamos falar em televisão.

E como escritor... será que sou um? Bem. Como escritor, é difícil ler o que os outros escrevem. Não me bate. Para começar, não sabem como colocar uma linha, um parágrafo. Só de olhar o texto impresso a distância já parece chato. E quando você realmente lê, é pior que chato. Não tem ritmo. Não tem nada de emocionante ou novo. Não tem jogo, fogo, gás. O que estão fazendo? Parece ser trabalho pesado. Não se admira que a maioria dos escritores diga que escrever é doloroso. Eu entendo isso.

Algumas vezes com meu texto, quando não foi extraordinário, tentei outras coisas. Derramei vinho nas páginas, acendi um fósforo e queimei buracos nelas. “O que você está FAZENDO aí? Sinto cheiro de fumaça!”

“Tudo bem, querida, está tudo bem...”

Uma vez, meu cesto de lixo pegou fogo e o levei correndo para a varanda e derramei cerveja nele.

Para eu escrever, gosto de assistir a lutas de boxe, ver como o jab é usado, o direto de direira, o gancho de esquerda, o uppercut, o counter punch. Gosto de vê-los lutar, sair da tela. Existe algo a ser aprendido, algo a ser aplicado à arte de escrever, à maneira de escrever. Só sobram páginas, e você pode queimá-las, se quiser.

Música clássica, charutos, o computador faz o texto dançar, gritar, rir. O pesadelo da vida também ajuda.

Todos os dias, quando entro no hipódromo, sei que estou mandando minhas horas à merda. Mas ainda tenho a noite. O que os outros escritores fazem? Ficam na frente do espelho examinando os lóbulos da orelha? E então escrevem sobre eles. Ou sobre suas mães. Ou como salvar o mundo. Bem, podiam me poupar não escrevendo esse troço chato. Essa bobagem sem energia e murcha. Pare! Pare! Pare! Preciso ler alguma coisa. Será que não há nada para ler? Acho que não. Se você achar, me conte. Não, não faça isso. Eu sei: você escreveu. Esquece. Vai dar uma cagada.

Lembro de uma carta longa e furiosa que recebi um dia de um cara que me disse que eu não tinha o direito de dizer que não gostava de Shakespeare. Muitos jovens iam acreditar em mim e não se dariam ao trabalho de ler Shakespeare. Eu não tinha o direito de tomar essa posição. E assim por diante. Não respondi na época. Mas vou responder agora.

Vá se foder, colega. E eu não gosto também de Tolstói!

terça-feira, setembro 30

architecture as spectacle

From a place of socialization and facing differences, the contemporary cities turned into artificial spaces of a controlled public life, gigantic sceneries of architectural forms and publicity images who celebrate, with enthusiasm, the attribution of aesthetic value to the heterogeneous, the great importance of the appearance and the glorification of the symbolic in a sort of daily life’s dramatization. Understanding that architecture had direct and fundamental influence in the transformations that the world, and more specifically the cities, were subjected along the 20th Century, this work can be summarized as a short analysis of the architectural production as a social isolation, control and fragmentation planned spectacle, built with the intention of obstructing the communication, neutralizing the conflicts and leading human life to the logic of passivity and contemplation, of alienated production and consumption of goods and meaningless images. This analysis was carried out with the comprehension that the spectacle is not treated as a fundamentally contemporary phenomenon and that all architecture produced from modern movement’s vanguard up to postmodernism, besides not carrying out opposition – concerning to the “Architecture of the Spectacle” – complement themselves. This way, this work was built from a clear definition of The Concept of Spectacle, Chapter 2; followed by a concise and objective presentation of its intrinsic characteristics, pointing three different historical moments of the 20th Century’s architectural production, which are Architecture as Spectacle in Modern Movement, Chapter 3.1; In the totalitarian regimes, Chapter 3.2; and In Post-modernism, Chapter 3.3. Final Considerations and Bibliographical References can be found in Chapters 4 and 5.

This summary in english is dedicated to my international fans!
LOL!
I thank Julia Maia for the translation!

sábado, setembro 27

arquitetura como espetáculo

De um lugar de convívio e enfrentamento das diferenças, as cidades contemporâneas foram transformadas em espaços artificiais de uma vida pública dirigida e encenada, gigantescos cenários de formas arquitetônicas e imagens publicitárias que celebram, com entusiasmo, a estetização do heterogêneo, a valorização da aparência e a glorificação do simbólico em uma espécie de teatralização da vida cotidiana. Fruto do entendimento de que a arquitetura tem direta e fundamental influência nas transformações pelas quais o mundo, e mais especificamente as cidades, foram submetidas ao longo do século XX, este trabalho pode ser resumido como uma breve análise da produção da arquitetura como um espetáculo programado de isolamento, controle e fragmentação sociais, construído com o intuito de impedir a comunicação, neutralizar os conflitos e direcionar toda a vida humana à lógica da passividade e da contemplação, da produção e do consumo alienados de mercadorias e imagens esvaziadas de significado. Esta análise foi realizada a partir da consciência de que o espetáculo não se trata de um fenômeno fundamentalmente contemporâneo e que, guardadas as devidas proporções, toda a arquitetura produzida desde as vanguardas do movimento moderno até o pós-modernismo mais caricato e historicista, além de não realizar oposição uma à outra – no que diz respeito à produção da Arquitetura como Espetáculo – se complementa. Desse modo, o trabalho foi construído a partir de uma clara definição de O Conceito de Espetáculo, Capítulo 2; para que em seguida fossem apresentadas, de forma concisa e objetiva, as características intrínsecas ao espetáculo em três momentos históricos distintos da produção arquitetônica do século XX, ou seja, a Arquitetura como Espetáculo No movimento moderno, Capítulo 3.1; Nos regimes totalitários, Capítulo 3.2; e No pós-modernismo, Capítulo 3.3. Nos Capítulos 4 e 5, respectivamente, foram dispostas as Considerações Finais e as Referências Bibliográficas.

Resumo da minha Dissertação de Mestrado. Enfim, consegui parir a criança!

quarta-feira, setembro 24

cabelito investment bank & co

Devido à falência de alguns dos maiores bancos de investimento do mundo e a confirmação de que economistas não sabem nada de economia, resolvi fundar a Cabelito Investment Bank & Co.

Também não entendo porra nenhuma de economia, mas como entendo um pouquinho mais de Brasil do que o Lehman Brothers, Merrill Lynch, AIG, etc... Resolvi assumir a função de indicador econômico do RISCO BRASIL!

Durante minha reflexão-vaso-sanitarista-matinal avaliei que o risco Brasil está em torno de 212 pontos. Não vejo motivo para pânico, nossa economia está fortalecida, tivemos um superávit primário de mais de 18 bilhões de dólares nas primeiras 3 semanas do mês de setembro, valor 12% inferior ao mesmo período do ano passado, mas nada que não seja absolutamente contornável no mês de outubro, afinal, dia 12 é dia das crianças e o comércio certamente será re-aquecido pela venda de barbies, legos, e outras bugigangas desse tipo!

Vale ressaltar que as ações da Companhia Moita 3D Ltda se apresenta como um excelente investimento a curto, médio e longo prazo e, obviamente, não estou recebendo ($) nada pela indicação, muito menos sou parente de algum sócio dessa empresa!

Sem mais para o momento,

Cabelito
Presidente da Cabelito Investment Bank & Co

quinta-feira, julho 31

de licença

Acabo de tirar uma licença... Uma licença remunerada de minha vida dedicada ao ócio criativo e aos prazeres mundanos! Infelizmente, fraquejei... Resisti o quanto pude, mas sucumbi diante a constante pressão exercida por essa sociedade obcecada pelo trabalho, pela novela das oito e pelas mulheres com nome de fruta!

Não “deixo (ess)a vida para entrar na história”, como o gorducho do Getúlio Vargas, mas deixo-a como os judeus hospedados em Auschwitz... Convicto de que “o trabalho liberta”!

Imagem: Foto do Campo de Concentração de Auschwitz, na Polônia, com a seguinte inscrição no portão de entrada: "Arbeit macht frei" [O trabalho liberta].

sexta-feira, julho 4

lei seca

Não bastasse terem criado o vírus da AIDS para impedir que copulássemos livremente e sodomizássemos uns aos outro sempre que nos fosse conveniente, implementaram agora no Brasil uma lei de tolerância zero à combinação álcool e direção, ou seja, quem tiver ingerido uma gota de álcool sequer, terá seu carro apreendido, sua habilitação suspensa por 1 ano e receberá uma multa de R$ 950,00. Quem tiver bebido um pouco além da conta (isso mesmo, daquele jeito que você volta dirigindo toda sexta-feira pra casa) ainda terá o privilégio de conhecer de pertinho, em seu íntimo, o sensacional sistema prisional brasileiro!

Obviamente não sou um louco a fazer apologia à "dobradinha" bebida e direção, mas fico surpreso com a quantidade de “caras de pau”, comportando-se como santos, e declarando total apoio a lei. Todo mundo sabe que existem dois tipos de motoristas, os que bebem e os que não bebem, os que bebem, ao beber, não deixam de dirigir! E os que não bebem, não bebem, logo, não dirigem bêbados, dirigem somente sob o efeito de maconha, cocaína, ecstasy, chá de cogumelo, chá de fita, LSD, lança perfume, raxixe, enfim, qualquer merda que dê onda e não seja detectado pelo bafômetro (quem curte uma onda de bombom de licor, melhor partir pra outra! Ah, e trocar o bombom por Listerine é furada)! É verdade que muitas pessoas não bebem e não usam drogas de tipo algum, estejam elas dirigindo ou não, mas se eu fosse você, e se uma pessoa com essas características fosse meu candidato a genro ou algo parecido, eu ficaria desconfiado, mandaria investigar o rapaz...

Mas vamos ao que interessa. Ouvi o relato de um amigo, que depois de sair de casa para um bar e voltar dirigindo sem ingerir uma gota de álcool (o que não fazia há tempos), pôde perceber como o Rio de Janeiro anda carente de ordem: flanelinhas extorquindo dinheiro nas calçadas, mulheres de "vida fácil" vendendo sexo nas esquinas, crianças vendendo balas em mesas de bar, policiais corruptos sendo subornados por cidadãos corruptores... Passado o martírio de um retorno sóbrio para casa, apavorado e transtornado com a bizarra realidade que o álcool e direção impediam-no de enxergar, começou a perceber que a sua vida fazia menos sentido do que todos os nomes esquisitos das Igrejas Evangélicas que se proliferam pela cidade, lidos em seqüência e ininterruptamente...

Igreja Evangélica Pentecostal a Última Embarcação para Cristo Igreja Evangélica a Última Trombeta Soará Bola de Neve Church Igreja Caverna de Adulão Igreja Evangélica Abominação à Vida Torta Cruzada Evangélica do Pastor Waldevino Coelho, a Sumidade Igreja Cristo é Show!

Teve uma crise de choro. Lembrou que a bebida alcoólica também estava proibida nos estádios de futebol, e sem o álcool, aquela derrota nos pênaltis na final da Libertadores havia sido ainda mais amarga. Foi então que, consumido pela raiva, destruiu a pontapés todo o seu móvel de cozinha Bartira, comprado em 24 vezes sem juros nas Casas Bahia e, por fim, “sentou” a mão na cara da pobre da Roseli, sua empregada estrábica e reumática. Vida de merda que o álcool e a direção o impediram por longos anos de enxergar, mas que estava convicto, não iria permitir que continuasse. Como o insano japonês em Tóquio, estava decidido a atropelar todo e qualquer filho da puta que passasse na sua frente, em seguida, esfaquearia aqueles que insistissem em permanecer de pé e, por final, cometeria um harakiri!

Mas por acreditar que teria em mim um comparsa para a sua carnificina, me confidenciou suas intenções e, felizmente, consegui persuadi-lo a desistir de tamanha insanidade. Agora, juntos, faremos algo ainda mais grandioso! Tal qual Alphonse Capone durante a Lei Seca norte-americana, ficaremos ricos, mas obviamente, fazendo tudo dentro da lei. Lançaremos em agosto, em parceria com a Apple, o nosso personal bafômetro (já devidamente patenteado) que, entre outras coisas, funcionará como celular, terá acesso a internet e um GPS de última geração que localiza todas as blitz da polícia Militar, Civil, Federal, Rodoviária, além das blitz das Milícias e das organizações criminosas do 3º Comando, do Comando Vermelho e dos Amigos dos Amigos em um raio de 400 quilômetros!

p.s. O menor dos problemas é a lei, difícil é aturar mais e mais hipocrisia!

quinta-feira, junho 5

questão de tempo

Ela o fazia acreditar que ninguém poderia ser mais perfeito, jurava nunca ter sentido nada parecido [seu corpo ao menos denunciava que ninguém jamais havia lhe chupado daquela maneira!]. Não conseguia acreditar em tudo aquilo que estava acontecendo, e por conta disso, trazia consigo a insegurança característica dos que têm muito a perder [ligava pro celular dele de 2 em 2 horas, diuturnamente, e não entendia sua opção por jogar bola, beber cerveja e comer churrasco toda quarta-feira ao invés de desfrutar de sua companhia!]. Ela acreditava, piamente, estar construindo um relacionamento sólido e duradouro [ignorava por completo a existência do sociólogo polonês Zygmunt Bauman e sua tese sobre a liquidez das relações contemporâneas!], e oferecia-lhe seu amor de forma sincera e incondicional, desejando apenas que ele o correspondesse [através do cumprimento régio de algumas regras básicas previamente estabelecidas por ela... falar a todo o momento que ela é linda e que ele a ama, acompanhá-la em sua maratona semanal ao shopping sem tirar o sorriso do rosto, nunca esquecer de reparar (e elogiar) seus cortes rotineiros de ½ centímetro de cabelo, entre outras exigências igualmente estapafúrdias!]. A insegurança e a juventude ainda impediam-lhe de reconhecer as pequenas sutilezas masculinas utilizadas para expressar seus sentimentos mais ternos [surra de pau mole, duas sem tirar de dentro, cabeçada no céu da boca!], assim como compreender as artimanhas necessárias para se construir uma consistente relação a dois [TV a cabo, surdez congênita, hora extra, rivotril, memória seletiva, etc, etc, etc!]. Nada que o tempo não a ensinasse!

terça-feira, maio 6

o jogo do contente

Todo dia ele fazia a mesma coisa. Acordava pontualmente às 7:00. Tomava banho de porta aberta e sempre se esquecia de pegar a toalha. Um café rápido, ninguém pra se despedir e já estava fora de casa. No caminho, como que inconscientemente, tentava se convencer de que gostava daquilo. Tentava acreditar que era importante e que no fundo era um cara feliz. O resto da manhã transcorreu sem sobressaltos. Ao meio-dia no restaurante a quilo sentou-se no lugar de sempre, foi atendido pelo garçom de sempre e saudado com a mesma pergunta de todos os dias. “Coca com gelo e limão?” Nos últimos 2 anos almoçou no mesmo restaurante, sentado no mesmo lugar, e sempre dava a mesma resposta. “Sem limão, por favor.” Por dentro tinha vontade de dar uma garrafada no filho da puta do garçom, mas sempre o respondia, no mesmo e plácido tom de voz. Durante o almoço, tentava se convencer de que a comida do restaurante a quilo em que comia todos os dias tinha certa qualidade, e que era um cara privilegiado por poder se dar ao luxo de freqüentar um restaurante, afinal, quantas pessoas que passam fome não fariam de tudo para estar em seu lugar repetindo diariamente a mesma frase: “Sem limão, por favor.”? O resto da tarde também transcorreu sem alvoroço. Terminado o expediente, todos permaneceram no escritório, torcendo para que alguém tivesse a coragem de voltar pra casa primeiro, afinal, o patrão não via com bons olhos o funcionário que cumpria pontualmente o seu horário. Demonstrar obsessão pelo trabalho e disponibilidade em fazer horas extras não-remuneradas era característica essencial de um funcionário padrão. Mas ele tentava se convencer de que àquelas horas extras seriam muito importantes pra sua carreira e ascensão profissional. Estava confiante que mais cedo ou mais tarde seu patrão reconheceria sua dedicação e não mais confundiria seu primeiro nome, afinal, só estava na empresa há 5 anos, ainda não dera tempo do patrão guardar um nome tão incomum como o seu: João. Finalmente, estava de volta ao lar. Comida congelada no microondas, futebol na televisão e ninguém pra conversar, contar sobre seu dia excitante ou ouvir reclamações. Mas ele não se abalava com a solidão, tentava pensar que amanhã seria outro dia e que deveria agradecer por estar vivo e com saúde, por ter um teto onde se abrigar e onde abrigar um freezer cheio de comida congelada. Insistia em acreditar que era um cara feliz, com um bom emprego, um excelente combo de TV por assinatura + internet banda larga e toda uma vida de alegrias pela frente.

segunda-feira, abril 28

o mais importante é o mais oculto

Tem tempo que eu não escrevo nada que preste aqui [como se alguma vez tivesse escrito algo que prestasse], mas é aquilo, falta de tempo, muito trabalho e muito dinheiro no bolso... Resultado? Quando não estou trabalhando estou gastando com bebidas, drogas e mulheres! Mas é aquilo, sempre acontece algo de novo para me tirar dessa difícil rotina!

Ultimamente tenho dedicado grande parte do meu tempo a garimpar notícias sobre educação, economia, política e saúde pela internet, infelizmente, as dificuldades encontradas são enormes. Os meios de comunicação, 100% dedicados ao caso Isabella Nardoni, esqueceram do flamengo [a letra minúscula é proposital], da dança do créu, da mulher melancia, e por mais incrível que possa parecer, esqueceram até do mosquito da dengue! Imaginem se alguém se lembraria de fazer uma matéria sobre o cancelamento do aumento das bolsas de mestrado e doutorado, aumento esse anunciado pelo governo e revogado em virtude da não-aprovação da CPMF! Imaginem! Claro que não lembrariam! Nossos jornalistas têm tarefas mais importantes a fazer, como...

Entrevistar psiquiatras que traçaram o perfil psicológico do “adevogado” e desconhecedor da gramática da língua portuguesa [mais precisamente do capítulo que trata da concordância verbal], o Dr. Alexandre Nardoni, assim como... Entrevistar velhinhas insanas que viajaram 400 quilômetros para juntamente com um exército de jornalistas e cidadãos desocupados fazer guarda, em turnos coletivos de 24 horas, em frente ao 9º Distrito Policial do Carandiru, como se esperassem do delegado, devoto de São Cosme e São Damião, a distribuição de centenas de doces em saquinhos!

Como diria um velho amigo meu: “O espetáculo organiza com habilidade a ignorância do que acontece e, logo a seguir, o esquecimento do que, apesar de tudo, conseguiu ser conhecido. O mais importante é o mais oculto."

p.s. Como eu queria morar ao lado do 9º Distrito Policial do Carandiru, só pra ter o prazer de arremessar ovo podre e porrolho [aquela maçaroca de papel higiênico molhado] em toda essa gente de curiosidade mórbida. A parte ruim seria morar em São Paulo, e relativamente perto da Lívia Maria.

quinta-feira, abril 3

imposturas intelectuais

O Orkut não é só cultura inútil e canal cibernético de invasão e contemplação da intimidade alheia, às vezes nos apresenta algo de interessante. A última pérola foi a comunidade Imposturas Intelectuais, homenagem ao livro homônimo dos físicos Alan Sokal e Jean Bricmont.

Impossível não ter a curiosidade despertada pela descrição da comunidade! Ainda não adquiri o livro, mas recomendo, deve ser no mínimo engraçado!

Descrição da comunidade:

"Se você não compreende de jeito nenhum textos como:


Podemos ver claramente que não há nenhuma correspondência biunívoca entre relações significantes lineares ou de arquiestrutura, dependendo do autor, e essa catálise maquínica multirreferencial e multidimensional.

Não se preocupe nem se ache um imbecil. Ninguém entende, embora alguns façam de conta. Citações como esta, do psicanalista Félix Guattari, que são nada mais que um amontoado de palavras rebuscadas, cheio de jargões científicos, pseudocientíficos e filosóficos, foram desmontadas, e seus autores desmascarados pelos físicos Alan Sokal e Jean Bricmont em seu livro Imposturas Intelectuais."

Agora que me inspirei em Guattari, deixa eu voltar pra minha Dissertação de Mestrado!

terça-feira, março 11

apologia à preguiça

“Sejamos preguiçosos em tudo, exceto em amar e em beber, exceto em sermos preguiçosos.”

Lessing

"Contemplai o crescimento dos lírios dos campos, eles não trabalham nem fiam e, todavia, digo-vos, Salomão, em toda a sua glória, não se vestiu com maior brilho."

Jesus cristo

“Os filósofos da antiguidade ensinavam o desprezo pelo trabalho, essa degradação do homem livre; os poetas cantavam a preguiça, esse presente dos deuses.”

Paul Lafargue

“É necessário estar sempre bêbedo. Tudo se reduz a isso; eis o único problema. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos abate e voz faz pender para a terra, é preciso que vos embriaguez sem cessar.
Mas – de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Contando que vos embriaguez.
E, se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na verde relva de um fosso, na desolada solidão de vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhe que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, hão de vos responder:
- É a hora da embriaguez! Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas! De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.”

Baudelaire

Embriagai-vos... Porque trabalhar dá muito trabalho!

quarta-feira, março 5

planos de um novo rico

Essa rotina de escassez monetária e, conseqüentemente, precária diversão, fez com que eu topasse o desafio de encarar um concurso público, logicamente, com o único intuito de enriquecer licitamente por meio de pouco ou quase nenhum esforço. O concurso é para o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, cargo de Analista de Infra-Estrutura na área de transporte rodoviário e urbano, ou seja, serei uma espécie de semáforo-humano com salário inicial de R$ 5.406,44. Disse que serei pois estou convicto de minha aprovação, e diante te tamanha convicção comecei a pensar em formas de gastar meu futuro salário, na verdade, minha futura pequena fortuna, pois para a triste realidade de um arquiteto e urbanista recém formado, essa remuneração é exorbitante!

Após algumas horas de reflexão concluí que meu primeiro gasto será com o aluguel de um carro de bombeiro, desfilarei pela cidade comemorando minha vitória, nada mais justo após ter assinado um certificado de vencedor e cidadão padrão aos olhos de nossa sociedade. Em seguida comprarei um neto para a minha mãe. Ela quer um neto, eu não quero ter um filho [se ainda precisasse de ajuda para arar um pedaço de terra, plantar mandioca ou tocar um rebanho de ovelhas, lhe daria uns 13 netos], mas agora que sou rico, é só comprar um, ou quem sabe dois.

Jogarei todas as minhas roupas fora, principalmente as camisas de Encontros de Arquitetura, a partir de agora, só usarei roupas de estilistas famosos. Também não mais andarei em companhia de amigos pobres, ou seja, todos os amigos que tenho, mas também não ficarei “órfão”, alugarei ou comprarei alguns novos. Por fim, bancarei a gravação do 1º CD dos Skrotes Boys of the Catland [banda formada por parte dos já citados amigos pobres], tenho certeza que assim perceberão vossa total falta de talento musical, me poupando de futuros convites para seus ensaios bizarros e suas sazonais apresentações em festinhas com não mais que 23 convidados...

É... Tão bom fazer planos de gastos futuros!

terça-feira, março 4

sobre pessoas e bukowski

Estava lendo um texto do Bukowski onde ele fala de pessoas que passam pela vida com pouca angústia, pessoas que dormem bem, que são contentes com a família, pessoas imperturbáveis, e que ao morrerem, têm uma morte serena, normalmente durante o sono. Ele insiste que pessoas assim existem. Declara não ser uma delas, que está longe de ser uma delas, mas que elas estão lá, e ele está aqui.

Eventualmente invejo pessoas assim... Dormir oito horas por dia, acordar disposto, perceber uma mulher feliz e carinhosa no outro lado da cama, quem sabe até “dar uma” antes do trabalho. Café da manhã com as crianças, deixá-las no colégio, seguir pro escritório. Reuniões, cafezinhos, almoço em um bom restaurante, gráficos, planilhas, voltar pra casa. Banho quente, jantar em família, novela das oito. Total serenidade até as próximas horas de um sono profundo, onde tudo recomeça, e só termina com a chegada de uma morte tranqüila, em um dia qualquer, provavelmente durante um sonho.

Constantemente invejo o Bukowski... Vagabundo imprestável, proletário e bêbado. Vida familiar invariavelmente conturbada. Apaixonado por corridas de cavalos, mulheres e música clássica. Largou a faculdade de jornalismo e freqüentou todos os piores empregos que pôde. Entre um porre e outro escreveu romances, contos e poesias. Sem pudores e de forma crua escreveu histórias profundas, sobre pessoas e temas só aparentemente banais. Foi um homem angustiado, solitário, dono de uma sensibilidade peculiar. Morreu de leucemia, mas podia ter sido de cirrose hepática. Em seu túmulo, pediu que escrevessem: Don´t Try.

quinta-feira, fevereiro 28

quinta-feira, fevereiro 21

sobre perdas

Não faz muito tempo ouvi minha mãe dizer que já fui uma pessoa menos amarga. Escutei palavras parecidas de alguns amigos próximos que leram meus textos. Mas só me sinto mais velho, mais crítico. E menos crédulo, menos inocente. É difícil não perder a inocência quando se percebe que perdas são inevitáveis. Aprendi cedo a lidar com certo tipo de perda, aprendi cedo a lidar com a morte. Hoje até consigo enxergar beleza na morte, e lido melhor com ela do que com certas perdas do dia-a-dia: as amizades que se perdem pela distância, os amores eternos que não resistem ao tempo e as diferenças, a esperança de mudar o mundo que se transforma no simples desejo de comprá-lo... A morte não, ela é inexorável, natural, e sim, dona de uma beleza peculiar, existe candura na dor de quem perde alguém pra morte, já as pequenas perdas, essas são desprovidas de beleza, e suas dores são dores impregnadas de amargura.

quarta-feira, fevereiro 20

amenidades da vida cotidiana

Tava aqui tentando ocupar meus pensamentos com qualquer coisa desimportante. Ultimamente tenho dedicado grande parte do meu tempo ocioso a refletir sobre inutilidades: futebol, carnaval, poesia, dissertação de mestrado, trabalho, etc. Acho que deveria dedicar mais tempo aos meus filhos. Eu não tenho filhos, mas se tivesse dedicaria mais tempo a eles!

Será que as pessoas têm filhos justamente pra terem algo importante a que se dedicarem? Nunca olhei por essa óptica, mas ter filhos é uma saída interessante pra dar significado a uma existência, digamos... pouco interessante.

Quem tem filho não tem tempo de dormir, muito menos de pensar amenidades. Quem tem filho trabalha, limpa bunda suja de cocô e faz mamadeira. Depois leva pra escola, trabalha ainda mais pra pagar a escola e tenta convencer o moleque de que ele deve torcer pro mesmo time que você. Quem tem filho não tem carnaval e nem lê poesia, somente livro infantil e bula de remédio pra cólica. Quem tem filho não escreve dissertação de mestrado e nem tem tempo de reclamar do trabalho. Enfim, quem tem filho não tem tempo de pensar o quanto sua existência é, digamos... pouco interessante.

Será que eu deveria ter filhos?

sexta-feira, fevereiro 15

profundas divagações odontológicas

Não consigo dormir. Minha internet está fora do ar e uma dor de dente me atormenta. Tô aqui, escrevendo rápido, sem pensar, tentando esquecer a desgraçada da dor. Tá difícil. Juro que se essa dor passasse eu ficava uma semana sem entrar na internet e nunca mais acessava o Orkut, melhor, eu apagava o meu perfil do Orkut, melhor ainda, eu assassinava o filho da puta que inventou o Orkut. Porra, se essa dor de dente passasse agora eu arrumava um trabalho fixo e doava mensalmente 10% do meu salário pra Igreja Renascer em Cristo!

Acho que vou beber cachaça, álcool ameniza dor de dente, não cura, mas ameniza... Só tem cerveja escura. Uma garrafa de cachaça ameniza uma dor de dente, mas duas long neck de cerveja escura não amenizam nem dor de corno. E é certo que não trocaria minha dor de dente por uma dor de corno, talvez por uma dor de cabeça, de coluna, mas não por uma dor de corno. A idéia da dor de dente já nem me parece tão ruim, é só uma dor de dente! Uma obturação dá jeito, na pior das hipóteses um canal, uma extração. Perto de uma dor de corno é moleza!

terça-feira, fevereiro 12

nova babilônia

por Constant Nieuwenhuis

Aquarela de Constant, publicada na edição original de A Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord.
Nenhum motivo em especial para postá-la, simplesmente gosto dessa imagem!

domingo, fevereiro 10

carnaval

Ruas diariamente ocupadas por pedestres apressados e fisionomias preocupadas são tomadas por um estado de embriaguez coletiva...

Os poucos carros que transitam livremente desfilam com suas rodas de rolimã, caixas de isopor, guarda-sóis coloridos e placas dizendo: DOIS LATÕES POR CINCO!

Pequenos super-heróis, odaliscas e bruxas sobem e descem as ladeiras de Santa Teresa de mãos dadas com suas mães!

Jack Sparrow retira dinheiro em um caixa eletrônico do Banco do Brasil, o Super-Homem espera na fila sem se importar com a ousadia do pirata!

Pessoas cantam e sorriem nos ônibus, se beijam e se abraçam nas esquinas, ocupam a cidade, se apropriam do que lhes pertence por direito!

O carnaval é assim, uma espécie de mensagem subliminar de esperança dentro de um filme repleto de momentos tristes... Tenta por quatro dias nos convencer de que esse estado de embriaguez coletiva não precisa ter fim!

quinta-feira, janeiro 24

terrorismo poético

por Hakim Bey

DANÇAR BIZARRAMENTE A NOITE INTEIRA em caixas eletrônicos de bancos. Apresentações pirotécnicas não autorizadas. Land-art*, peças de argila que sugerem estranhos artefatos alienígenas espalhados em parques estaduais. Arrombe apartamentos, mas, em vez de roubar, deixe objetos Poético-terroristas. Seqüestre alguém e o faça feliz. Escolha alguém ao acaso e o convença de que é herdeiro de uma enorme, inútil e impressionante fortuna – digamos, cinco mil quilômetros quadrados na Antártica, um velho elefante de circo, um orfanato em Bombaim ou uma coleção de manuscritos de alquimia. Mais tarde, essa pessoa perceberá que por alguns momentos acreditou em algo extraordinário e talvez se sinta motivada a procurar um modo mais interessante de existência.

Coloque placas de bronze comemorativas nos lugares (públicos ou privados) onde você teve uma revelação ou viveu uma experiência sexual particularmente inesquecível etc.

Fique nu para simbolizar algo.

Organize uma greve na escola ou trabalho em protesto por eles não satisfazerem a sua necessidade de indolência e beleza espiritual.

A arte do grafite emprestou alguma graça aos horríveis vagões de metrô e sóbrios monumentos públicos - a arte – Terrorismo Poético (TP) também pode ser criada para lugares públicos: poemas rabiscados nos lavabos dos tribunais, pequenos fetiches abandonados em parques e restaurantes, arte-xerox sob o limpador de pára-brisas de carros estacionados, slogans escritos com letras gigantes nas paredes de playgrounds, cartas anônimas enviadas a destinatários previamente eleitos ou escolhidos ao acaso (fraude postal), transmissões de rádio pirata, cimento fresco...

A reação do público ou o choque-estético produzido pelo TP tem que ser uma emoção pelo menos tão forte quanto o terror - profunda repugnância, tesão sexual, temor supersticioso, súbitas revelações intuitivas, angústia dadaísta - não importa se o TP é dirigido a apenas uma pessoa ou várias pessoas, se é "assinado" ou anônimo: se não mudar a vida de alguém (além da do artista), ele falhou.

O TP é um ato num Teatro da Crueldade sem palco, sem fileiras de poltronas, sem ingressos ou paredes. Para que funcione, o TP deve afastar-se de forma categórica de todas as estruturas tradicionais para o consumo de arte (galerias, publicações, mídia). Mesmo as táticas de guerrilha Situacionista do teatro de rua talvez tenham agora se tornado muito conhecidas e previsíveis.

Uma requintada sedução levada adiante não apenas pela satisfação mútua, mas também como um ato consciente por uma vida deliberadamente mais bela - deve ser o TP definitivo. O Terrorista Poético comporta-se como um trapaceiro barato cuja meta não é dinheiro, mas MUDANÇA.

Não faça TP para outros artistas, faça-o para pessoas que não perceberão (pelo menos por alguns momentos) que o que você fez é arte. Evite categorias artísticas reconhecíveis, evite a política, não fique por perto para discutir, não seja sentimental; seja impiedoso, corra riscos, vandalize apenas o que precisa ser desfigurado, faça algo que as crianças lembrarão pelo resto da vida — mas só seja espontâneo quando a Musa do TP o tenha possuído.

Fantasie-se. Deixe um nome falso. Seja lendário. O melhor TP é contra a lei, mas não seja pego. Arte como crime; crime como arte.

* Tipo de arte que usa a paisagem, normalmente natural, como objeto artístico, sendo a própria natureza (e seus fenômenos, chuva, vnto, etc.) elementos constitutivos da obra.

terça-feira, janeiro 22

profundas divagações cinematográficas

Assisto ao filme do Cartola e descubro que ele morreu no dia do meu aniversário. Um monte de gente boa e de existência atormentada morreu no dia do meu aniversário: Cartola, Oscar Wilde, Fernando Pessoa, Guy Debord... Grandes merdas, um monte de gente boa e de existência atormentada morre no dia do aniversário de um monte de gente todo santo dia!

Colocar legenda em filmes é algo muito complexo ou eu que sou um idiota? Baixo um monte de porcaria na internet e não consigo colocar a merda da legenda. Os únicos filmes em inglês e sem legenda que eu entendo sem dificuldades aparecem no e-mule com títulos longos e diálogos curtos: Lesbian licking her friends ass, Three busty students fuck this lucky guy at school! Capote é exatamente o oposto! Sem legenda fica foda!

sexta-feira, janeiro 11

falando sério

Quando aos 10 anos me imaginava com quase 30, me imaginava diferente, acho que com mais cara de gente grande, do jeito que os adultos deveriam ser... Ter um emprego normal, uma casa normal, uma mulher normal [se é que isso existe], e quem sabe, até filhos normais!

Tenho quase 30 e não tenho nada disso, o que na verdade não me surpreende. Nunca me achei normal, nunca quis ser normal... Pessoas normais me cansam, e o retrato de uma vida normal me lembra a cena de um velório: choro, vela e a família toda reunida a minha volta...


A questão é que há pouco tempo me fizeram a seguinte pergunta:

“Porra, mas o que você quer fazer da vida?”

Sem pensar muito respondi:

“Quero ler uns livros, dormir 10 horas por dia, conhecer Machu Picchu, jogar futebol toda quarta-feira e voltar embriagado de cerveja e churrasco pra casa, onde ela vai estar me esperando pra me ouvir dizer que é a melhor e mais linda mulher que um jogador de futebol frustrado e bêbado poderia querer!”

Acho que não contavam com essa resposta, talvez com algo mais objetivo e idiota do tipo:

“Quero trabalhar com arquitetura e construir edifícios residências em concreto armado pra sustentar minha família e adquirir minha casa própria!”

Enfim, interpretaram minhas palavras como gozação, como piada... E o pior é que pela primeira vez na minha vida eu tava falando sério!


segunda-feira, janeiro 7

nesse ano...

Quero não conseguir escrever tanta merda nesse Blog. Quero estar tão feliz e despreocupado com tudo e com todos que não tenha a mínima disposição para anotar uma mísera linha sequer, no máximo escrever meu nome na areia da praia, com meu pau interpretando o papel da caneta bic e o meu mijo travestido de tinta amarela. Quero estar tão envolvido com atividades prazerosas e libertinas, como conhecer outras culturas e novas línguas, que não consiga dedicar um minuto de meu tempo e energia à velha e maltratada língua portuguesa. Quero estar tão apaixonado e embriagado pela alegria contagiante da vida a ponto de interromper minha greve de escrita e contribuir na construção da orelha de um best seller qualquer de auto-ajuda. Enfim, mais alegria e menos melancolia!