quinta-feira, novembro 30

dia de aniversário

Tem dia mais estranho que o dia do seu aniversário?

Quando era moleque sempre ficava tenso no dia do meu aniversário, ficava preocupado de não aparecer ninguém na festa, acho que até sonhava com isso... Eu, sozinho, com uma mesa toda enfeitada e uma caixa de presentes vazia... Olha que merda: passar o dia preocupado que a sua festa seja um fracasso e sua caixa de presentes termine cheia de espaço vazio. É muita tortura pra uma criança de 8 anos!

Mas pior que essa preocupação é quando você percebe que tem um monte de gente na sua festa [algumas pessoas você conhece, a maioria não faz idéia de quem seja] e todos cantarão o famoso “Parabéns pra você”... Batendo palmas, olhando fixamente pro seu corpo franzino e cabeçudo [que nesse momento está sobre um banquinho, com a sua mãe de um lado e seu pai do outro], todos sorrindo e cantando: “Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida...”. Cena inesquecível!

Mas no fundo no fundo, “Parabéns pra você” é pinto perto de “Derrama Senhor”. Existe no mundo música mais horrenda que “Derrama Senhor”? Impossível existir. O pior dessa música é que além das pessoas cantarem e baterem palmas – essa é a melhor parte – elas ABANAM as mãos em sua direção [sem contar que toda família tem um tio que vai além, aquele que na hora do “derrama”, enche um copo d´água, molha as mãos, e, gargalhando, despeja “perdigotos” na mesa, no bolo, em você, na sua avó, na vizinha, enfim, em todos]. Ah, e qual família também não tem uma “tia véia” que quando a música acaba ela emenda: “o Gabriel já FOI abençoado, lalalalalalala... O Senhor já DERRAMOU, o Senhor já DERRAMOU, lalalalalala...”. Antológica essa cena!

Desde moleque odeio “Derrama Senhor”, se não me engano, foi no meu aniversário de 7 anos que quase destruí a ornamentação de “faroeste” da mesa do bolo. Joguei areia, índio, oca, soldado, todo e qualquer tipo de objeto que pudesse machucar, ou quem sabe, até matar o meu tio [esse não era o tio dos “perdigotos”, era outro perfil de tio, daqueles que todo mundo também tem, do tipo que quando você tem 6, 7 anos, ele fica apertando seu pênis e perguntando: “Cadê o piru? Cadê o piru? Tem nada aí!”]. O “puto” do meu tio cantava o famoso “Derrama Senhor” a pleno pulmões. Cantava, abanava as mãos e ria da minha cara, o filho da p...

Mas voltando à pergunta inicial: Tem dia mais estranho que o dia do seu aniversário?

Na verdade têm 2 dias mais estranhos que o dia do seu aniversário:

1º - O dia anterior ao seu aniversário, aquele dia que a sua tia telefona pra te dar os parabéns [isso quando ela não liga no dia errado, mas no dia certo do MÊS errado!]. Isso consegue ser mais estranho que qualquer dia de aniversário!

2º - O dia que você percebe que não esqueceu de muitos de seus aniversários passados, principalmente daqueles em que você subiu num banquinho pra tirar foto atrás do bolo com seus pais, daquele em que cantaram “Derrama Senhor” e despejaram “perdigotos” na sua cabeça, daquele que você tentou matar o seu tio e até ganhou um “all-star” vermelho de cano longo de presente do seu padrinho. O estranho é perceber que você não esqueceu, e o mais estranho é perceber que ainda lembra de tudo aquilo com saudade e nostalgia!

Enfim, mais um dia estranho, mais um aniversário... “É BIG, É BIG, É BIG, É BIG, É BIG, É HORA, É HORA, É HORA, É HORA, É HORA, RÁ-TIM-BUM, GABRIEL, GABRIEL, GABRIEL!”

segunda-feira, novembro 27

tempo

Tempo, quem inventou esse merda? Certamente um capitalista filho da puta inventou a divisão do tempo que conhecemos: o tempo da produção e o tempo do lazer. 5 dias da semana para o trabalho e 2 dias para o ócio [na maioria dos casos, um ócio nada criativo].

Foi assim: inventaram nosso calendário, com essa invenção criaram a idéia de tempo cíclico, com esse tempo cíclico estruturaram o tempo como algo linear, infinito. Tempo infinito... Infinito é o meu pênis (ops, mentira).

Essa noção cíclica do tempo é uma boa de uma sacanagem, 5 dias de trabalho para míseros 2 dias de descanso, de preguiça... 11 meses de labor, 11 meses sonhando com o tão esperado 1 mês de férias. A gente “sobrevive” por 11 meses sonhando viver 1 mês de prazer, de diversão, de alegria, e quem sabe, até um pouquinho de sacanagem... 11 meses de trabalho para 1 mês de descanso. E tem gente que acha que “5 contra 1” é covardia! Covardia, covardia é esse “11 contra 1”... É uma questão matemática, 1 mês de vida não pode compensar 11 meses de sobrevida!

Acreditem, assim como uma segunda-feira de trabalho perdida não é compensada pela próxima segunda, mas sim com um desconto no contra-cheque, o que deixamos de fazer no último sábado não poderemos compensar no sábado seguinte, aquele sábado já passou, já era, “zéfini”, morreu, foi perdido e muito provavelmente mal vivido por nós...

É assim em nosso “tempo”: quando se fala de trabalho, de produção, nos falam de um tempo absoluto, cíclico, mas quando se fala em lazer, em ócio, em preguiça, nos falam de um tempo relativo, de um tempo pseudo-cíclico. Querem nos convencer de que o tempo perdido de lazer é recuperável, e que o tempo perdido de produção é insubstituível... Tempos modernos...

É, vou dormir, um insubstituível sábado de lazer já passou, e uma irrecuperável, única e finita segunda-feira [de trabalho?] me espera!

segunda-feira, novembro 13

lilás

Das cores, até sei os nomes, mas muitas vezes não consigo diferenciá-las. Meu verde pode ser vermelho, marrom. Meu amarelo pode ser verde. Meu azul pode ser cinza, roxo. Mas uma coisa é certa, nada meu é lilás. Essa cor eu só conheço de nome.

Lilás, palavra escrota essa, lilás. Ainda bem que não sei o que é e o que não é lilás, para mim, nada é lilás... E certamente, nada muito interessante pode ser lilás, algo lilás só pode ser algo muito lilás.


Imaginem um time de futebol de uniforme lilás... Não se pode levar a sério um time de futebol de uniforme lilás, muito menos as pessoas que torcem por um time de futebol de uniforme lilás.


Dia de jogo, todos os torcedores vestidos de lilás indo para o estádio, colorindo ônibus, trens e ruas de lilás, colorindo toda a cidade com essa palavra escrota, lilás.