Só conseguia me sentir um idiota. Minha vontade era ficar o tempo todo debaixo da mesa do bolo, ou quem sabe escondido na caixa dos presentes. Me sentia o mais idiota entre todos os garotos idiotas da 4ª série. Por que eu não podia usar roupas normais? Um tênis normal, uma calça jeans normal, uma camisa colorida qualquer com alguma frase estúpida em inglês? Toda festa de aniversário era uma espécie de Segunda, Terceira, Quarta Comunhão. Ela separava meu cinto e meus sapatos brancos de verniz, minhas meias finas e brancas que iam até os joelhos, minha bermuda branca de pregas e minha camisa branca cheia de botões.
Antes aquela fosse minha Primeira Comunhão e não a festa de aniversário de um colega de escola. A julgar pela minha aparência, estaria no lugar certo, onde poderia expiar, reservadamente em um confessionário, meus primeiros pecados.
- Me perdoe, padre, pois eu pequei.
- Qual seu pecado, meu filho?
- Desejei arremessar pela janela do meu quarto toda essa roupa ridícula e branca que estou vestindo, e junto à roupa, padre, também desejei arremessar a minha mãe.
A parte ruim seria a quantidade infinita de Ave Maria e Pai Nosso que viriam depois, mas nada comparável ao castigo de estar em uma festa fantasiado de “Gasparzinho Envernizado” enquanto todos seus amigos ostentam tênis novos, calças jeans e camisas coloridas. Talvez eu fosse o único aluno do colégio a agradecer secretamente pela existência do uniforme escolar obrigatório: tênis de couro preto, meia preta, bermuda jeans e camisa verde. Era bom chegar ao colégio e estar vestido como todo mundo. A idéia de que todas as festas de aniversário também pudessem ter uniformes obrigatórios me empolgava. Se os garçons tinham uniformes obrigatórios, por que não os convidados? Intimamente, invejava os garçons. Podiam parecer ridículos com aqueles paletós brancos e suas gravatas pretas de borboleta, mas não estavam sós. Nas festas, eu era sempre o único de sapatos brancos de verniz. Ridículo e só.
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Um comentário:
no fundo, somos todos ridiculos e sozinhos no mundo. uns a espera de curar a solidão, já outros mais preocupados em só serem ridiculos mesmo...
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