quinta-feira, janeiro 24

terrorismo poético

por Hakim Bey

DANÇAR BIZARRAMENTE A NOITE INTEIRA em caixas eletrônicos de bancos. Apresentações pirotécnicas não autorizadas. Land-art*, peças de argila que sugerem estranhos artefatos alienígenas espalhados em parques estaduais. Arrombe apartamentos, mas, em vez de roubar, deixe objetos Poético-terroristas. Seqüestre alguém e o faça feliz. Escolha alguém ao acaso e o convença de que é herdeiro de uma enorme, inútil e impressionante fortuna – digamos, cinco mil quilômetros quadrados na Antártica, um velho elefante de circo, um orfanato em Bombaim ou uma coleção de manuscritos de alquimia. Mais tarde, essa pessoa perceberá que por alguns momentos acreditou em algo extraordinário e talvez se sinta motivada a procurar um modo mais interessante de existência.

Coloque placas de bronze comemorativas nos lugares (públicos ou privados) onde você teve uma revelação ou viveu uma experiência sexual particularmente inesquecível etc.

Fique nu para simbolizar algo.

Organize uma greve na escola ou trabalho em protesto por eles não satisfazerem a sua necessidade de indolência e beleza espiritual.

A arte do grafite emprestou alguma graça aos horríveis vagões de metrô e sóbrios monumentos públicos - a arte – Terrorismo Poético (TP) também pode ser criada para lugares públicos: poemas rabiscados nos lavabos dos tribunais, pequenos fetiches abandonados em parques e restaurantes, arte-xerox sob o limpador de pára-brisas de carros estacionados, slogans escritos com letras gigantes nas paredes de playgrounds, cartas anônimas enviadas a destinatários previamente eleitos ou escolhidos ao acaso (fraude postal), transmissões de rádio pirata, cimento fresco...

A reação do público ou o choque-estético produzido pelo TP tem que ser uma emoção pelo menos tão forte quanto o terror - profunda repugnância, tesão sexual, temor supersticioso, súbitas revelações intuitivas, angústia dadaísta - não importa se o TP é dirigido a apenas uma pessoa ou várias pessoas, se é "assinado" ou anônimo: se não mudar a vida de alguém (além da do artista), ele falhou.

O TP é um ato num Teatro da Crueldade sem palco, sem fileiras de poltronas, sem ingressos ou paredes. Para que funcione, o TP deve afastar-se de forma categórica de todas as estruturas tradicionais para o consumo de arte (galerias, publicações, mídia). Mesmo as táticas de guerrilha Situacionista do teatro de rua talvez tenham agora se tornado muito conhecidas e previsíveis.

Uma requintada sedução levada adiante não apenas pela satisfação mútua, mas também como um ato consciente por uma vida deliberadamente mais bela - deve ser o TP definitivo. O Terrorista Poético comporta-se como um trapaceiro barato cuja meta não é dinheiro, mas MUDANÇA.

Não faça TP para outros artistas, faça-o para pessoas que não perceberão (pelo menos por alguns momentos) que o que você fez é arte. Evite categorias artísticas reconhecíveis, evite a política, não fique por perto para discutir, não seja sentimental; seja impiedoso, corra riscos, vandalize apenas o que precisa ser desfigurado, faça algo que as crianças lembrarão pelo resto da vida — mas só seja espontâneo quando a Musa do TP o tenha possuído.

Fantasie-se. Deixe um nome falso. Seja lendário. O melhor TP é contra a lei, mas não seja pego. Arte como crime; crime como arte.

* Tipo de arte que usa a paisagem, normalmente natural, como objeto artístico, sendo a própria natureza (e seus fenômenos, chuva, vnto, etc.) elementos constitutivos da obra.

terça-feira, janeiro 22

profundas divagações cinematográficas

Assisto ao filme do Cartola e descubro que ele morreu no dia do meu aniversário. Um monte de gente boa e de existência atormentada morreu no dia do meu aniversário: Cartola, Oscar Wilde, Fernando Pessoa, Guy Debord... Grandes merdas, um monte de gente boa e de existência atormentada morre no dia do aniversário de um monte de gente todo santo dia!

Colocar legenda em filmes é algo muito complexo ou eu que sou um idiota? Baixo um monte de porcaria na internet e não consigo colocar a merda da legenda. Os únicos filmes em inglês e sem legenda que eu entendo sem dificuldades aparecem no e-mule com títulos longos e diálogos curtos: Lesbian licking her friends ass, Three busty students fuck this lucky guy at school! Capote é exatamente o oposto! Sem legenda fica foda!

sexta-feira, janeiro 11

falando sério

Quando aos 10 anos me imaginava com quase 30, me imaginava diferente, acho que com mais cara de gente grande, do jeito que os adultos deveriam ser... Ter um emprego normal, uma casa normal, uma mulher normal [se é que isso existe], e quem sabe, até filhos normais!

Tenho quase 30 e não tenho nada disso, o que na verdade não me surpreende. Nunca me achei normal, nunca quis ser normal... Pessoas normais me cansam, e o retrato de uma vida normal me lembra a cena de um velório: choro, vela e a família toda reunida a minha volta...


A questão é que há pouco tempo me fizeram a seguinte pergunta:

“Porra, mas o que você quer fazer da vida?”

Sem pensar muito respondi:

“Quero ler uns livros, dormir 10 horas por dia, conhecer Machu Picchu, jogar futebol toda quarta-feira e voltar embriagado de cerveja e churrasco pra casa, onde ela vai estar me esperando pra me ouvir dizer que é a melhor e mais linda mulher que um jogador de futebol frustrado e bêbado poderia querer!”

Acho que não contavam com essa resposta, talvez com algo mais objetivo e idiota do tipo:

“Quero trabalhar com arquitetura e construir edifícios residências em concreto armado pra sustentar minha família e adquirir minha casa própria!”

Enfim, interpretaram minhas palavras como gozação, como piada... E o pior é que pela primeira vez na minha vida eu tava falando sério!


segunda-feira, janeiro 7

nesse ano...

Quero não conseguir escrever tanta merda nesse Blog. Quero estar tão feliz e despreocupado com tudo e com todos que não tenha a mínima disposição para anotar uma mísera linha sequer, no máximo escrever meu nome na areia da praia, com meu pau interpretando o papel da caneta bic e o meu mijo travestido de tinta amarela. Quero estar tão envolvido com atividades prazerosas e libertinas, como conhecer outras culturas e novas línguas, que não consiga dedicar um minuto de meu tempo e energia à velha e maltratada língua portuguesa. Quero estar tão apaixonado e embriagado pela alegria contagiante da vida a ponto de interromper minha greve de escrita e contribuir na construção da orelha de um best seller qualquer de auto-ajuda. Enfim, mais alegria e menos melancolia!