terça-feira, março 11

apologia à preguiça

“Sejamos preguiçosos em tudo, exceto em amar e em beber, exceto em sermos preguiçosos.”

Lessing

"Contemplai o crescimento dos lírios dos campos, eles não trabalham nem fiam e, todavia, digo-vos, Salomão, em toda a sua glória, não se vestiu com maior brilho."

Jesus cristo

“Os filósofos da antiguidade ensinavam o desprezo pelo trabalho, essa degradação do homem livre; os poetas cantavam a preguiça, esse presente dos deuses.”

Paul Lafargue

“É necessário estar sempre bêbedo. Tudo se reduz a isso; eis o único problema. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos abate e voz faz pender para a terra, é preciso que vos embriaguez sem cessar.
Mas – de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Contando que vos embriaguez.
E, se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na verde relva de um fosso, na desolada solidão de vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhe que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, hão de vos responder:
- É a hora da embriaguez! Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas! De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.”

Baudelaire

Embriagai-vos... Porque trabalhar dá muito trabalho!

quarta-feira, março 5

planos de um novo rico

Essa rotina de escassez monetária e, conseqüentemente, precária diversão, fez com que eu topasse o desafio de encarar um concurso público, logicamente, com o único intuito de enriquecer licitamente por meio de pouco ou quase nenhum esforço. O concurso é para o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, cargo de Analista de Infra-Estrutura na área de transporte rodoviário e urbano, ou seja, serei uma espécie de semáforo-humano com salário inicial de R$ 5.406,44. Disse que serei pois estou convicto de minha aprovação, e diante te tamanha convicção comecei a pensar em formas de gastar meu futuro salário, na verdade, minha futura pequena fortuna, pois para a triste realidade de um arquiteto e urbanista recém formado, essa remuneração é exorbitante!

Após algumas horas de reflexão concluí que meu primeiro gasto será com o aluguel de um carro de bombeiro, desfilarei pela cidade comemorando minha vitória, nada mais justo após ter assinado um certificado de vencedor e cidadão padrão aos olhos de nossa sociedade. Em seguida comprarei um neto para a minha mãe. Ela quer um neto, eu não quero ter um filho [se ainda precisasse de ajuda para arar um pedaço de terra, plantar mandioca ou tocar um rebanho de ovelhas, lhe daria uns 13 netos], mas agora que sou rico, é só comprar um, ou quem sabe dois.

Jogarei todas as minhas roupas fora, principalmente as camisas de Encontros de Arquitetura, a partir de agora, só usarei roupas de estilistas famosos. Também não mais andarei em companhia de amigos pobres, ou seja, todos os amigos que tenho, mas também não ficarei “órfão”, alugarei ou comprarei alguns novos. Por fim, bancarei a gravação do 1º CD dos Skrotes Boys of the Catland [banda formada por parte dos já citados amigos pobres], tenho certeza que assim perceberão vossa total falta de talento musical, me poupando de futuros convites para seus ensaios bizarros e suas sazonais apresentações em festinhas com não mais que 23 convidados...

É... Tão bom fazer planos de gastos futuros!

terça-feira, março 4

sobre pessoas e bukowski

Estava lendo um texto do Bukowski onde ele fala de pessoas que passam pela vida com pouca angústia, pessoas que dormem bem, que são contentes com a família, pessoas imperturbáveis, e que ao morrerem, têm uma morte serena, normalmente durante o sono. Ele insiste que pessoas assim existem. Declara não ser uma delas, que está longe de ser uma delas, mas que elas estão lá, e ele está aqui.

Eventualmente invejo pessoas assim... Dormir oito horas por dia, acordar disposto, perceber uma mulher feliz e carinhosa no outro lado da cama, quem sabe até “dar uma” antes do trabalho. Café da manhã com as crianças, deixá-las no colégio, seguir pro escritório. Reuniões, cafezinhos, almoço em um bom restaurante, gráficos, planilhas, voltar pra casa. Banho quente, jantar em família, novela das oito. Total serenidade até as próximas horas de um sono profundo, onde tudo recomeça, e só termina com a chegada de uma morte tranqüila, em um dia qualquer, provavelmente durante um sonho.

Constantemente invejo o Bukowski... Vagabundo imprestável, proletário e bêbado. Vida familiar invariavelmente conturbada. Apaixonado por corridas de cavalos, mulheres e música clássica. Largou a faculdade de jornalismo e freqüentou todos os piores empregos que pôde. Entre um porre e outro escreveu romances, contos e poesias. Sem pudores e de forma crua escreveu histórias profundas, sobre pessoas e temas só aparentemente banais. Foi um homem angustiado, solitário, dono de uma sensibilidade peculiar. Morreu de leucemia, mas podia ter sido de cirrose hepática. Em seu túmulo, pediu que escrevessem: Don´t Try.