terça-feira, março 16

porra, são paulo!

Há pouco tempo ouvi alguém falar de Will Self. Seu nome veio à tona em uma conversa de bar. Passada a ressaca do dia seguinte comecei a pesquisar sobre o cara na internet. Entre “lidas e vindas” sobre a vida e a obra do jornalista e escritor inglês de 48 anos, uma resenha sobre seu último livro, O livro de Dave, publicado em 2006 e recentemente traduzido para o português, me chamou a atenção. Self narra em seu livro a trajetória de Dave, um taxista londrino que atormentado pela ex-esposa e por todos os outros males do mundo moderno, escreve um livro glorificando uma nova ordem suprema: o Conhecimento dos taxistas. Todavia, Dave, em um momento de loucura, certamente por obra e graça de sua ex-mulher, que o havia proibido de ver o filho, enterra seu livro que, séculos mais tarde, após uma catástrofe ambiental que arrasa o planeta, é encontrado e transformado na obra sagrada de um povo escolhido, onde a “roda” é o símbolo supremo e seus sacerdotes são chamados de “motoristas”!

Mas o que realmente importa é que esta história é apenas o prefácio de uma outra história ainda mais esclarecedora sobre mentiras, verdades e dogmas contemporâneos.

Empolgado com a resenha do livro do Self e, aproveitando minha visita à capital brasileira da cultura, das enchentes e dos congestionamentos, segui em busca de um exemplar do recém publicado O Livro de Dave, cujo autor vem sendo apontado pela crítica especializada como um dos mais inovadores escritores contemporâneos. Enfim, não poderia existir melhor lugar para comprar um exemplar do livro se não São Paulo.

Subi ofegante a Alameda Joaquim Eugênio de Lima, esperei o sinal e cruzei a Av. Paulista até a entrada principal da Fnac, espécie de livraria-papelaria-cafeteria-padaria-hospedaria onde, de acordo com informações, eu poderia encontrar o manuscrito do Novo Testamento, autografado por Mateus, Marcos e Lucas e dividido em até 12 x s/juros no cartão. Infelizmente, perdi a viagem, não tinham o livro disponível em estoque, pois este se encontrava abarrotado por um cem número de "livros que deram origem ao filme”, alguns poucos exemplares do Antigo Testamento autografados por Abraão e outras centenas de exemplares da enfadonha e pré-adolescente saga de Crepúsculo. Infelizmente é impossível entrar em uma dessas livrarias e não ser assediado quase que sexualmente pelos livros desta saga, que pulam da prateleira em cima de qualquer leitor em potencial.

Detive minha indignação, pois não seria essa multi-drug-megastore, símbolo contemporâneo da “cultura de consumo” que me faria desistir, e segui confiante para aquele que é reconhecidamente um, ou talvez quem sabe, o maior templo do “consumo cultural” paulistano: a Livraria da Cultura. Ao chegar ao templo, observando jovens, senhoras e crianças espalhados pela livraria, ávidos por livros, ávidos por conhecimento, confesso, fui arrebatado por uma esperança genuinamente brasileira e, sem esquecer de manter uma distância segura dos inúmeros exemplares da "saga maldita" espalhada pelas prateleiras, consultei o atendente mais próximo sobre a disponilidade de O Livro de Dave em seu estoque e...

Porra, São Paulo! Capital da Cultura? Porra, São Paulo! Já não bastava uma Rua Galvão Bueno no bairro da Liberdade não acho uma merda de exemplar da merda do livro do merda do Dave nessa merda de cidade? Porra, São Paulo!

p.s. Voltando despretensiosamente do trabalho em uma terça-feira chuvosa, adentrei no Shopping Nova América, localizado no pitoresco bairro carioca e suburbano de Del Castilho. Com a única intenção de esperar a chuva passar percorri os corredores de uma pequena livraria no interior do Shopping e eis que encontro, “enterrado” na última prateleira da última coluna, aquela próxima a porta de acesso restrito aos funcionários, o livro, O livro de Dave! Fui arrebatado por um orgulho genuinamente carioca!

4 comentários:

cafeiina disse...

o eu quero um livro, primeiro procuro na internet.

olaria olaria olariiiiiiiaaa disse...

obrigaaaaaada subúrbio carioca!!!

Tomás disse...

PORRA CABELITO Q MERDA!
COMPRA UM PASQUIM AE EM COPACABANA CARAI!!!

HAHAHAHAHHAHA

leonardo trotta disse...

Essa demora em você escrever um novo texto é irritante.