quinta-feira, fevereiro 28

quinta-feira, fevereiro 21

sobre perdas

Não faz muito tempo ouvi minha mãe dizer que já fui uma pessoa menos amarga. Escutei palavras parecidas de alguns amigos próximos que leram meus textos. Mas só me sinto mais velho, mais crítico. E menos crédulo, menos inocente. É difícil não perder a inocência quando se percebe que perdas são inevitáveis. Aprendi cedo a lidar com certo tipo de perda, aprendi cedo a lidar com a morte. Hoje até consigo enxergar beleza na morte, e lido melhor com ela do que com certas perdas do dia-a-dia: as amizades que se perdem pela distância, os amores eternos que não resistem ao tempo e as diferenças, a esperança de mudar o mundo que se transforma no simples desejo de comprá-lo... A morte não, ela é inexorável, natural, e sim, dona de uma beleza peculiar, existe candura na dor de quem perde alguém pra morte, já as pequenas perdas, essas são desprovidas de beleza, e suas dores são dores impregnadas de amargura.

quarta-feira, fevereiro 20

amenidades da vida cotidiana

Tava aqui tentando ocupar meus pensamentos com qualquer coisa desimportante. Ultimamente tenho dedicado grande parte do meu tempo ocioso a refletir sobre inutilidades: futebol, carnaval, poesia, dissertação de mestrado, trabalho, etc. Acho que deveria dedicar mais tempo aos meus filhos. Eu não tenho filhos, mas se tivesse dedicaria mais tempo a eles!

Será que as pessoas têm filhos justamente pra terem algo importante a que se dedicarem? Nunca olhei por essa óptica, mas ter filhos é uma saída interessante pra dar significado a uma existência, digamos... pouco interessante.

Quem tem filho não tem tempo de dormir, muito menos de pensar amenidades. Quem tem filho trabalha, limpa bunda suja de cocô e faz mamadeira. Depois leva pra escola, trabalha ainda mais pra pagar a escola e tenta convencer o moleque de que ele deve torcer pro mesmo time que você. Quem tem filho não tem carnaval e nem lê poesia, somente livro infantil e bula de remédio pra cólica. Quem tem filho não escreve dissertação de mestrado e nem tem tempo de reclamar do trabalho. Enfim, quem tem filho não tem tempo de pensar o quanto sua existência é, digamos... pouco interessante.

Será que eu deveria ter filhos?

sexta-feira, fevereiro 15

profundas divagações odontológicas

Não consigo dormir. Minha internet está fora do ar e uma dor de dente me atormenta. Tô aqui, escrevendo rápido, sem pensar, tentando esquecer a desgraçada da dor. Tá difícil. Juro que se essa dor passasse eu ficava uma semana sem entrar na internet e nunca mais acessava o Orkut, melhor, eu apagava o meu perfil do Orkut, melhor ainda, eu assassinava o filho da puta que inventou o Orkut. Porra, se essa dor de dente passasse agora eu arrumava um trabalho fixo e doava mensalmente 10% do meu salário pra Igreja Renascer em Cristo!

Acho que vou beber cachaça, álcool ameniza dor de dente, não cura, mas ameniza... Só tem cerveja escura. Uma garrafa de cachaça ameniza uma dor de dente, mas duas long neck de cerveja escura não amenizam nem dor de corno. E é certo que não trocaria minha dor de dente por uma dor de corno, talvez por uma dor de cabeça, de coluna, mas não por uma dor de corno. A idéia da dor de dente já nem me parece tão ruim, é só uma dor de dente! Uma obturação dá jeito, na pior das hipóteses um canal, uma extração. Perto de uma dor de corno é moleza!

terça-feira, fevereiro 12

nova babilônia

por Constant Nieuwenhuis

Aquarela de Constant, publicada na edição original de A Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord.
Nenhum motivo em especial para postá-la, simplesmente gosto dessa imagem!

domingo, fevereiro 10

carnaval

Ruas diariamente ocupadas por pedestres apressados e fisionomias preocupadas são tomadas por um estado de embriaguez coletiva...

Os poucos carros que transitam livremente desfilam com suas rodas de rolimã, caixas de isopor, guarda-sóis coloridos e placas dizendo: DOIS LATÕES POR CINCO!

Pequenos super-heróis, odaliscas e bruxas sobem e descem as ladeiras de Santa Teresa de mãos dadas com suas mães!

Jack Sparrow retira dinheiro em um caixa eletrônico do Banco do Brasil, o Super-Homem espera na fila sem se importar com a ousadia do pirata!

Pessoas cantam e sorriem nos ônibus, se beijam e se abraçam nas esquinas, ocupam a cidade, se apropriam do que lhes pertence por direito!

O carnaval é assim, uma espécie de mensagem subliminar de esperança dentro de um filme repleto de momentos tristes... Tenta por quatro dias nos convencer de que esse estado de embriaguez coletiva não precisa ter fim!