terça-feira, dezembro 26

medo

Tenho medo. Medo de ter medo, medo de não ter mais medo de nada. Medo de sentir o que sinto e medo desse sentimento não ser mais sentido por mim. Tenho medo da distância, medo da distância aumentar.

Sinto-me sozinho, ausente de mim mesmo. Não compartilho nem da minha própria presença. Meu corpo está aqui, minha mente está longe, tentando pensar o melhor, tentando.

O clima de despedida somado ao clima de Natal não ajudam, não me trazem confiança, mas incredulidade. Sim, ser crédulo nunca me foi característica, mas seu oposto, agora, me absorve o pensar.

Queria poder correr para o tempo passar, queria fazer com que correndo o tempo voasse... Correria sem parar, sem pensar, somente correria.

Tenho medo do tempo, não do que ele faz com a gente por fora, mas do que pode fazer com a gente por dentro. Trocaria minhas rusgas interiores por quantas rugas superficiais fossem necessárias.

Temo, temo que a força de meus desejos seja sucumbida pelo tempo. Temo ser mais fraco que minha curiosidade burra. Temo que minha racionalidade seja atropelada por uma passionalidade ainda mais burra que toda e qualquer burra curiosidade.

Preferia ainda temer o escuro, os fantasmas de minha infância. Hoje não mais os temo, hoje meus fantasmas não são mais lençóis brancos com furos nos olhos, são fantasmas internos, fantasmas que me assombram muito mais do que aqueles velhos lençóis.

domingo, dezembro 24

ontem chorei sem chorar

Ontem chorei sem chorar. Choro mudo, calado, contido. Choro sem lágrimas, sem soluços. Choro que de tão doído se mantém incógnito, disfarçado, velado, camuflado, dissimulado em sorrisos amarelos, em piadas sem graça. Choro contraditório, incoerente... Choro sem começo, choro sem fim.

quinta-feira, dezembro 14

nem perfeito, nem latino-americano...

Devo dizer [antes que digam o contrário] que nunca fui um perfeito idiota latino-americano...

Nunca acreditei que nós, os latino-americanos, fomos, de alguma maneira, explorados, defraudados, enxovalhados ou oprimidos por nossos colonizadores, sejam eles, portugueses, espanhóis, franceses, ingleses ou até mesmo os pobres dos norte-americanos. Nunca achei que nossa miséria ou atraso econômico e social tivesse a menor relação com alguns séculos de exploração aos quais fomos submetidos. A culpa disso tudo é 100% nossa!

É de suma importância relatar aqui, que nunca acreditei nessa tal de mais-valia, muito menos nessa balela de exploração da classe trabalhadora, expropriação de sua força de trabalho, luta de classes. Tudo invenção daquele alemão barbudo e esquizofrênico [esse gordinho do “Max” me dá até vontade de rir, gordo xexelento].

Ah, também nunca gostei daqueles arquitetinhos frustrados que começaram com a história de que o desenho do arquiteto é responsável pela extração da mais-valia nos canteiros de obra. Que viagem! Esse tal de Rodrigo Lefèvre e seu outro amiguinho, o Sérgio Ferro, deviam é estar chapados de maconha quando mandaram essa, isso sim. Ao invés de serem empreendedores, correrem atrás de trabalho, arregaçarem as mangas, vêm com esse papo de doidão, de vincular inovação estética e prática política revolucionária. Deus do céu, quanta perda de tempo e de dinheiro.

E pra ser sincero, pra ser sincero mesmo, a gente precisava mesmo era de um Jorge Buchi, um cabra macho, um cabra hômi, pra invadir aquela terra de viciado em cocaína que é a Bolívia e recuperar o investimento da nossa Petrobrás... E quer saber de outra coisa, nossa Petrobrás é o caralho, tem mais é que privatizar aquela merda. Isso do Estado intervir na economia é coisa do tempo do meu avô, do tempo daquele negócio de “bem estar social”, coisa mais antiga, coisa velha, coisa retrógrada.

Os tempos são outros, e o futuro, o futuro é o liberalismo, a livre competição, a especulação financeira... Ganhar grana na Bolsa de Valores e ficar rico, milionário... Pra depois aproveitar, viajar, rodar por esse mundão de grandes oportunidades: um safarizinho na África, outro na Rocinha, uma expediçãozinha ao Iraque, umas orgias no Nordeste brasileiro, outras no Leste europeu, um cruzeiro no Caribe... Ah, vida boa, mundo justo!

quinta-feira, dezembro 7

ao toque do sinal

Acordei torcendo que o sinal tocasse, que anunciasse os tão esperados trinta minutos de liberdade. Em disparada, percorreria os corredores do prédio novo até o velho campo de areia. Sob sol escaldante, correria sem parar atrás dela, por breves trinta minutos correria, defendendo – como se mais nada no mundo importasse – as variadas cores do meu time sem camisa. Ao soar do segundo sinal, saltando degraus, subiria as escadas em direção à sala de aula. Lá, tomaria de assalto a carteira de alguém, aquela estrategicamente situada debaixo do ventilador de teto, e, ainda que a professora de ciências voltasse, nela permaneceria... Sentado, exausto, ofegante, livre.

quinta-feira, novembro 30

dia de aniversário

Tem dia mais estranho que o dia do seu aniversário?

Quando era moleque sempre ficava tenso no dia do meu aniversário, ficava preocupado de não aparecer ninguém na festa, acho que até sonhava com isso... Eu, sozinho, com uma mesa toda enfeitada e uma caixa de presentes vazia... Olha que merda: passar o dia preocupado que a sua festa seja um fracasso e sua caixa de presentes termine cheia de espaço vazio. É muita tortura pra uma criança de 8 anos!

Mas pior que essa preocupação é quando você percebe que tem um monte de gente na sua festa [algumas pessoas você conhece, a maioria não faz idéia de quem seja] e todos cantarão o famoso “Parabéns pra você”... Batendo palmas, olhando fixamente pro seu corpo franzino e cabeçudo [que nesse momento está sobre um banquinho, com a sua mãe de um lado e seu pai do outro], todos sorrindo e cantando: “Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida...”. Cena inesquecível!

Mas no fundo no fundo, “Parabéns pra você” é pinto perto de “Derrama Senhor”. Existe no mundo música mais horrenda que “Derrama Senhor”? Impossível existir. O pior dessa música é que além das pessoas cantarem e baterem palmas – essa é a melhor parte – elas ABANAM as mãos em sua direção [sem contar que toda família tem um tio que vai além, aquele que na hora do “derrama”, enche um copo d´água, molha as mãos, e, gargalhando, despeja “perdigotos” na mesa, no bolo, em você, na sua avó, na vizinha, enfim, em todos]. Ah, e qual família também não tem uma “tia véia” que quando a música acaba ela emenda: “o Gabriel já FOI abençoado, lalalalalalala... O Senhor já DERRAMOU, o Senhor já DERRAMOU, lalalalalala...”. Antológica essa cena!

Desde moleque odeio “Derrama Senhor”, se não me engano, foi no meu aniversário de 7 anos que quase destruí a ornamentação de “faroeste” da mesa do bolo. Joguei areia, índio, oca, soldado, todo e qualquer tipo de objeto que pudesse machucar, ou quem sabe, até matar o meu tio [esse não era o tio dos “perdigotos”, era outro perfil de tio, daqueles que todo mundo também tem, do tipo que quando você tem 6, 7 anos, ele fica apertando seu pênis e perguntando: “Cadê o piru? Cadê o piru? Tem nada aí!”]. O “puto” do meu tio cantava o famoso “Derrama Senhor” a pleno pulmões. Cantava, abanava as mãos e ria da minha cara, o filho da p...

Mas voltando à pergunta inicial: Tem dia mais estranho que o dia do seu aniversário?

Na verdade têm 2 dias mais estranhos que o dia do seu aniversário:

1º - O dia anterior ao seu aniversário, aquele dia que a sua tia telefona pra te dar os parabéns [isso quando ela não liga no dia errado, mas no dia certo do MÊS errado!]. Isso consegue ser mais estranho que qualquer dia de aniversário!

2º - O dia que você percebe que não esqueceu de muitos de seus aniversários passados, principalmente daqueles em que você subiu num banquinho pra tirar foto atrás do bolo com seus pais, daquele em que cantaram “Derrama Senhor” e despejaram “perdigotos” na sua cabeça, daquele que você tentou matar o seu tio e até ganhou um “all-star” vermelho de cano longo de presente do seu padrinho. O estranho é perceber que você não esqueceu, e o mais estranho é perceber que ainda lembra de tudo aquilo com saudade e nostalgia!

Enfim, mais um dia estranho, mais um aniversário... “É BIG, É BIG, É BIG, É BIG, É BIG, É HORA, É HORA, É HORA, É HORA, É HORA, RÁ-TIM-BUM, GABRIEL, GABRIEL, GABRIEL!”

segunda-feira, novembro 27

tempo

Tempo, quem inventou esse merda? Certamente um capitalista filho da puta inventou a divisão do tempo que conhecemos: o tempo da produção e o tempo do lazer. 5 dias da semana para o trabalho e 2 dias para o ócio [na maioria dos casos, um ócio nada criativo].

Foi assim: inventaram nosso calendário, com essa invenção criaram a idéia de tempo cíclico, com esse tempo cíclico estruturaram o tempo como algo linear, infinito. Tempo infinito... Infinito é o meu pênis (ops, mentira).

Essa noção cíclica do tempo é uma boa de uma sacanagem, 5 dias de trabalho para míseros 2 dias de descanso, de preguiça... 11 meses de labor, 11 meses sonhando com o tão esperado 1 mês de férias. A gente “sobrevive” por 11 meses sonhando viver 1 mês de prazer, de diversão, de alegria, e quem sabe, até um pouquinho de sacanagem... 11 meses de trabalho para 1 mês de descanso. E tem gente que acha que “5 contra 1” é covardia! Covardia, covardia é esse “11 contra 1”... É uma questão matemática, 1 mês de vida não pode compensar 11 meses de sobrevida!

Acreditem, assim como uma segunda-feira de trabalho perdida não é compensada pela próxima segunda, mas sim com um desconto no contra-cheque, o que deixamos de fazer no último sábado não poderemos compensar no sábado seguinte, aquele sábado já passou, já era, “zéfini”, morreu, foi perdido e muito provavelmente mal vivido por nós...

É assim em nosso “tempo”: quando se fala de trabalho, de produção, nos falam de um tempo absoluto, cíclico, mas quando se fala em lazer, em ócio, em preguiça, nos falam de um tempo relativo, de um tempo pseudo-cíclico. Querem nos convencer de que o tempo perdido de lazer é recuperável, e que o tempo perdido de produção é insubstituível... Tempos modernos...

É, vou dormir, um insubstituível sábado de lazer já passou, e uma irrecuperável, única e finita segunda-feira [de trabalho?] me espera!

segunda-feira, novembro 13

lilás

Das cores, até sei os nomes, mas muitas vezes não consigo diferenciá-las. Meu verde pode ser vermelho, marrom. Meu amarelo pode ser verde. Meu azul pode ser cinza, roxo. Mas uma coisa é certa, nada meu é lilás. Essa cor eu só conheço de nome.

Lilás, palavra escrota essa, lilás. Ainda bem que não sei o que é e o que não é lilás, para mim, nada é lilás... E certamente, nada muito interessante pode ser lilás, algo lilás só pode ser algo muito lilás.


Imaginem um time de futebol de uniforme lilás... Não se pode levar a sério um time de futebol de uniforme lilás, muito menos as pessoas que torcem por um time de futebol de uniforme lilás.


Dia de jogo, todos os torcedores vestidos de lilás indo para o estádio, colorindo ônibus, trens e ruas de lilás, colorindo toda a cidade com essa palavra escrota, lilás.

segunda-feira, outubro 30

dias de roda viva

Tava pensando no ano de 2006, no mês de outubro, no dia de hoje.
Ano confuso, mês estranho, dia daqueles de roda viva...

“Tem dias que a gente se sente/Como quem partiu ou morreu/A gente estancou de repente/Ou foi o mundo então que cresceu [...]”

Dia daqueles que a gente se dá conta que mesmo não querendo acompanhar crescimento algum, de mundo algum, a vida dá um jeito de mostrar que a gente não tá sozinho, que a gente não é deus, que a gente é gente.

Quando pequeno, lembro que ao pedir um brinquedo pra minha mãe, ouvi um categórico “não, não tenho dinheiro”, retruquei imediatamente, “dá cheque, mãe”! Naquele momento um encanto se quebrou, descobri que dinheiro e cheque são as mesmas coisas.


Encanto quebrado, mas nada comparado aos dias em que descobri que dinheiro não nascia em árvores, que Papai Noel não existia e que meu pai, ele mesmo, o meu pai, comia a minha mãe. Dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. Dias de quebra de encanto. Dias necessários, mas dias dolorosos.

sábado, outubro 21

a casa caiu

A casa caiu – ou melhor, parte dela – um velho telhado de madeira com telhas de barro, sobrecarregado por um belo toldo de lona branca [daqueles que acumulam chuva e fazem uma enorme barriga d´água] foi-se ao chão... Acreditem, não é uma brincadeira de mau gosto, não é uma piada sem graça, do tipo humor negro, muito menos uma das tirinhas diárias dos “Malvados”, a cobertura do bar em que estava ontem desabou sobre minha cabeça, da minha e da de outras almas boêmias que tranqüilamente desfrutavam de mais uma noite de sexta-feira!

Num minuto, cervejas, caipirinhas, amendoins e pastéis, no outro, caibros, ripas, telhas e lama... Estranho pensar que podemos sair de casa, encontrar amigos, jogar conversa fora, falar mal do Lula, do Alckmin, e de repente, nada mais que de repente... Um pilar de madeira te leva ao chão e quilos e quilos de telhado desabam sobre você... [O santo dos presidenciáveis é forte, cala-te boca!] Mas entre mortos e feridos, salvaram-se todos. É verdade, algumas cabeças foram contundidas, outras testas cortadas, mas nada de muito sério, ao menos ninguém morreu, ainda...

Sim, tem gente correndo risco de morte. O dono do bar está sob cuidados médicos, em observação, e tudo leva a crer que morrerá. Morrerá numa puta grana! Pra começar, uma TV de plasma de “847 polegadas” foi pro espaço [minutos antes do ocorrido, a bela caixa de fazer doido – caixa não, quadro – o belo quadro de fazer doido passava imagens da trajetória futebolística do Zico. Porra, sempre ouvi dizer que o Zico é pé-frio, mas puta que pariu, aí já é demais. Será que o acidente é culpa do Galinho de Quintino? Será? Ih... Deixa pra lá]. Ninguém que estava no bar pagou a conta, também pudera, nada mais justo... A conta da minha mesa não era das mais humildes, já me despertava preocupações [30 cervejas a R$ 3,20, aperitivos, mais 10%... E não é que tudo na vida tem mesmo um lado bom! Será que esses livros de auto-ajuda tem razão?! Isso é assunto pra outra hora... Voltando] O dono do estabelecimento, aquele sob cuidados médicos, certamente será processado, vivo, morto ou moribundo [hoje em dia se processa por qualquer coisa, tem gente que sai de casa torcendo pra passar um constrangimento num restaurante, pra receber uma cobrança indevida, pra uma loja colocar seu nome por engano no SPC, imagina quando um telhado cai na sua cabeça... Putz, dinheiro certo no juizado de pequenas causas]. Mas esqueçamos o lado material, a gente morre e deixa tudo aqui. Dinheiro é pra ser gasto, dinheiro é papel... Mas vá lá, como diria meu amigo Kurtsy, ”dinheiro é papel, mas papel não é dinheiro”. Ah, esquece, vamos às coisas boas...

Realmente é estranho pensar que numa sexta-feira qualquer, num bar qualquer, o mundo em forma de telhado possa cair na sua cabeça... Fim. Não existirão novas sextas-feiras, novos bares, novas conversas, nem novos candidatos a presidente dos quais você poderá reclamar nas mesas de bar de futuras sextas-feiras... Basta que da próxima vez você encontre um telhado mais competente, com mais pontaria, e não irá reclamar de mais ninguém, não irá conversar com mais ninguém, muito menos beber com alguém...

É, que bom que foi só um susto! Que bom que o telhado era ruim de mira, que bom que terei muitas novas contas de bar para pagar [a partir de agora farei isso até com certo prazer]. Que bom que inventaram a TV de Plasma, fina, elegante, que ao cair em cima de alguém não fere, não mata. Ah... As cobranças de falta do Zico, que bom! Ainda poderei revê-las quantas vezes quiser, as belas cobranças de falta do Zico, agora ainda mais belas. Que bom que ainda poderei beber muitas cervejas com o Kurtsy, com a Joana, o Moita, a Mari, a Ciclope [que levou 5 pontos na cabeça]. Eles estavam comigo nesta sexta-feira e poderão estar em muitas outras sextas, em muitas outras feiras, sob muitos outros telhados, e que esses outros telhados não queiram testar suas pontarias em nós! Que bom!

sexta-feira, outubro 20

da miséria do meio estudantil

“(...) Recolhendo um pouco dos sobejos de prestígio da Universidade, o estudante ainda se sente satisfeito por ser estudante. Tarde demais! O ensino mecânico e especializado que recebe está tão profundamente degradado quanto o seu próprio nível intelectual na altura em que a tal ensino adere, e isto pelo simples fato de a realidade que domina o conjunto destas coisas – o sistema econômico – reclamar uma fabricação maciça de estudantes incultos e incapazes de pensar. Que a Universidade se tenha tornado uma organização – institucional – da ignorância, que a própria "alta cultura" se dissolva ao ritmo da produção em série dos professores, que todos estes professores sejam uns cretinos, de tal modo que a maior parte dentre eles provocaria a algazarra de qualquer público de liceu, tudo isso o ignora o estudante; e, respeitosamente, continua a escutar os seus mestres, com a vontade consciente de perder todo e qualquer espírito crítico, a fim de melhor comungar na ilusão mística de se ter tornado um "estudante", isto é, alguém que seriamente se ocupa na aprendizagem de um saber sério, na expectativa de assim lhe serem confiadas as últimas verdades. Trata-se, aqui, de uma menopausa do espírito. Tudo quanto se passa hoje nos anfiteatros das escolas e das faculdades será condenado na futura sociedade revolucionária como ruído, socialmente nocivo. O estudante, desde já, dá vontade de rir. (...)”

Fragmento de texto extraído do Manifesto “Da miséria do meio estudantil, considerada nos seus aspectos econômico, político, sexual e especialmente sexual e de alguns meios para a prevenir”, escrito por membros da Internacional situacionista e alguns estudantes da cidade de Estraburgo, no ano de 1966.

Qualquer semelhança com a atualidade será mera coincidência?

quinta-feira, outubro 19

só quero namorar

Só quero uma prostituta,
uma prostituta pra namorar

Bonita como as de Pasárgada,
maldita como a Geni...
Não me importa

Só peço que ao ir embora,
não me leve

Não me leve pela mão
Não me leve num zepelim
Não me leve no coração

Branca como a neve,
negra como o carvão...
Só peço que não me leve

Não me leve no pensamento
Não me leve no esquecimento
Não me leve

Só quero namorar

terça-feira, outubro 17

sei lá

Não me peçam coerência, certezas absolutas, posturas definitivas, verdades inapeláveis. Não me cobrem uma decisão [talvez não recebam um sim, e não queiram um não]. Quero viver minhas incertezas, quero meu direito à dúvida. Quero o oito, quero o oitenta, quero e quero poder não querer, quero e não quero, sei lá...

sexta-feira, outubro 13

panóptico

Imagem: Panóptico [pan - todos; óptico – observar]: Prisão ideal desenhada por Jeremy Bentham em 1791. O desenho dessa prisão permitia ao vigilante observar todos os prisioneiros sem que estes soubessem estar sendo observados.







Sorria, você está sendo filmado.
Observado, constrangido, aprisionado, vigiado, coagido...
No banheiro, na sala, no quarto,
nos elevadores, corredores...
Câmeras, lentes, satélites, celulares,
internet, micro-computadores...
Em bares, lanchonetes, praças, praias,
cemitérios, igrejas, romarias...
Em todo lugar, estão lá.
Na cidade, no campo. De noite, de dia.
Na casa, na cama, na cela, na tela, ao vivo, em cores.
Estão lá: sentinelas, guardas, dedos-duros, alcagüetes, delatores...

terça-feira, outubro 10

saudade antecipada

Tenho vivido [recorrentemente] o estranho sentimento de saudade daquilo que ainda não passou, daquilo que estou vivendo, daquilo que virá... Às vezes me pego parado, quieto, lamentando profundamente o futuro fim de um papo de mesa de bar que ainda não começou, o apagar de uma cena que não terminei de contemplar totalmente, a velocidade com que passa um sorriso que acabei de receber e passarão as risadas que ainda irei compartilhar. Nesses poucos segundos de introspecção, entristeço. Saudade precedente, melancolia ao revés, reconhecimento prévio da efemeridade da felicidade. Sentir saudade do que está por vir é a retratação da angústia. O desejo de transformar o efêmero em perene sufoca, e o reconhecimento dessa impotência corrói a alma. Ao menos esses momentos ainda não são memórias, mas presente, futuro. E a saudade antecipada que angustia, também acalanta.

domingo, outubro 8

ah...

Eu queria saber o que fazer, saber pra onde ir, que caminho tomar, queria, mas não sei... Às vezes me sinto perdido, mas às vezes nem tanto... Angustiado, chateado, atado. Queria escrever livros, fazer músicas, tocar as pessoas, mas as possibilidades parecem tão distantes, a realidade tão difícil, chata. A realidade parece um funcionário público: triste, resmungão, infeliz, contando as horas pro final do dia chegar.

Queria saber que caminho percorrer. Ultrapassar as banalidades cotidianas e alcançar o que realmente importa: a felicidade plena, não a falsa felicidade, mas a verdadeira, a da alma.

Tudo parece tão irritante, mas ao mesmo tempo, ao dobrar uma esquina, as possibilidades podem surgir... Mas se faltam esquinas? Onde estão as possibilidades? Existe felicidade em Brasília? Se existe, as almas felizes de lá não precisaram dobrar esquinas pra encontrá-la, exceto se caminharam até Ceilândia, Candangolândia, ou qualquer outra Ândia nos arredores do plano-piloto.

Engraçado, vivi momentos felizes em Brasília, mas não senti muita felicidade nas pessoas de lá. Estranho? Talvez não, lá não existem esquinas, e quem mora no plano-piloto não costuma se engendrar nas cidades satélites a procura de nada, muito menos de esquinas, muitos menos atrás de felicidade.

É, talvez por isso as coisas não caminhem bem por lá... Quem sabe se o Palácio da Alvorada mudasse de endereço.

Excelentíssimo Senhor Luís Inácio Lula da Silva
End: Rua General Antônio Cláudio Magalhães, nº 22, Taguatinga – DF.
p.s. esquina com a Av. Coronel João Sarney, em frente ao Mini Mercado (neo-liberal) Ferdinando Humberto Cardoso.

Certamente o Lula reencontrará a felicidade quando cruzar a Antônio Cláudio Magalhães com a Av. do João, ou não...


Escrito em 24/11/2005

quinta-feira, outubro 5

alckmin e garotinho

"A fotografia com o Garotinho desmonta o discurso ético de Alkmin."
César Maia [PFL] – Prefeito do Rio

“O Alckmin não gosta do Rio, definitivamente. Constatei isso ontem (terça-feira). Retiro o meu apoio a ele, que agora não está mais autorizado a usar a minha imagem”
Denise Frossard [PPS] – Candidata ao Governo do Rio

"Todo apoio que vier, por mais que tivermos discordâncias, é importante para a campanha"
"Ele (Garotinho) é um horror, eu o critico, mas ele tem voto. E ele quer dar apoio, e você vai recusar?"
Eduardo Paes [PSDB] – Candidato ao Governo do Rio


“Ninguém nega voto numa eleição apertada como essa. Até porque, Garotinho não pediu nada em troca. Isso é uma briga local entre o César Maia e o Garotinho. O que interessa é somar para eleger Alckmin.”
Tasso Jereissati [PSDB] – Presidente Nacional do PSDB

"Todo mundo apóia todo mundo, ou não apóia todo mundo, e isso é um fato banal"
FHC [PSDB] – Ex-Presidente da República

Ao comentar os apoios, Alckmin foi questionado por um jornalista se continuava a acreditar na frase que costuma repetir: "Diga-me com quem andas que direi quem és".

“Continuo, não mudo absolutamente nada. As pessoas votam em quem quiser. Não tenho aliança com ninguém, a não ser com o povo brasileiro.”
Geraldo Alkmin [PSDB] – Candidato a Presidência da República

"Adorei, acabamos de ganhar a eleição"
Ciro Gomes [PSB] – Deputado Federal - CE

A frase mais esclarecedora de todas, e a mais didática: "Todo mundo apóia todo mundo, ou não apóia todo mundo, e isso é um fato banal"...


Belas palavras de nosso ex-presidente! Quase palavras de um ex-jogador de futebol... Obrigado FHC!

"O jogo só acaba quando termina"... "O futebol é uma caixinha de surpresas"... "Clássico é clássico e vice-versa"...

FHC [XV de Piracicaba] - Ex-zagueiro central e capitão

terça-feira, outubro 3

teoria da deriva - guy debord - 1958

A deriva, por definição, é o “modo de comportamento experimental ligado às condições da sociedade urbana: técnica de passagem rápidas por ambiências variadas. Diz-se também, mais particularmente, para designar a duração de um exercício contínuo dessa experiência”, distinta do passeio e da viagem turística. “Seria então o gesto largo de preambulação pela metrópole, gesto aparentemente superficial e sem compromisso, mas um estímulo ao exercício de perder-se na cidade para descobri-la”.

A deriva de Debord busca suplantar os métodos tradicionais e convencionais de apreensão do espaço urbano, assim como substituir a representação pela vivência de experiências pessoais, introduzindo um novo tipo de leitor: o habitante que intervém, que vivencia, o “vivenciador”, e não um mero espectador que contempla alienado o que está em sua volta. Um convite para que todos possam experimentar a cidade e atuar como verdadeiros cidadãos.

imagem: Uma zona experimental para a deriva. O centro de Amsterdã, que foi explorado sistematicamente por equipes situacionistas em abril-maio de 1960.







em deriva

Esse blog não tem uma finalidade específica, nem assuntos e questões específicas a serem tratadas, é simplesmente um espaço reservado à deriva de meus pensamentos...